terça-feira, 23 de junho de 2015

Resumo - 21° Palestra

A palestra será ministrada pela professora Mônica Martins.


Capítulo 23 (Curso de 12 de dezembro de 1991)

O ESTADO COMO CAMPO DE LUTAS POLÍTICAS 

Mônica Dias Martins

O predomínio das ideias neoliberais e a reforma do Estado são traços marcantes da década de noventa do século XX. É neste cenário, que Pierre Bourdieu escolhe o tema de seu curso no Collège de France: a gênese do Estado moderno. Retoma, assim, uma tradição no ensino da Ciência Política que, nos seus primórdios, tinha como objeto de estudo o Estado, produto das lutas contra o feudalismo, a determinação religiosa e a legitimidade dinástica. Trata-se de uma proposta político-pedagógica na contramão do pensamento dominante na comunidade acadêmica, encantada com o debate sobre o fim do Estado-nação e o arcaísmo dos partidos políticos, além de ansiosa por se livrar das amarras teóricas da perspectiva estrutural-histórica. 
Amparado no método genético e em sistemáticos questionamentos, Bourdieu busca demonstrar que o Estado nem é monolítico nem direcionado para o bem comum, embora sua legitimidade decorra da expectativa de que garantiria direitos iguais aos cidadãos. Na última aula (12/12/1991), o autor destaca alguns de seus principais achados. Primeiramente, a construção do Estado-nação na Europa é indissociável do surgimento da ideia de cidadania e da constituição do Parlamento, espaço de manifestação dos conflitos entre grupos e classes, limitada pelas regras do jogo político e pelos interesses dos que as elaboram. Tais processos ocorrem simultaneamente e ajudam a entender a relevância para os regimes democráticos da “parlamentarização da vida política”. Sua análise é complementada por breve referência ao papel da televisão, enquanto formadora de opinião e fomentadora de debates regulados. Outra conclusão diz respeito à abordagem dialética do Estado-nação como campo de lutas políticas: por um lado, os vínculos entre o universal e o nacional, exemplificado pelo projeto civilizatório de dominação colonial da República francesa; por outro, as interdependências entre disciplina e assistencialismo, imprescindíveis à pretendida integração dos dominados e constituição da unidade nacional. Enfim, acredita Bourdieu que investigar a construção/desconstrução do Estado contribui para mudar nosso jeito de pensar as instituições e o papel dos agentes estatais na contemporaneidade. 

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