terça-feira, 23 de junho de 2015

Resumo - 21° Palestra

A palestra será ministrada pela professora Mônica Martins.


Capítulo 23 (Curso de 12 de dezembro de 1991)

O ESTADO COMO CAMPO DE LUTAS POLÍTICAS 

Mônica Dias Martins

O predomínio das ideias neoliberais e a reforma do Estado são traços marcantes da década de noventa do século XX. É neste cenário, que Pierre Bourdieu escolhe o tema de seu curso no Collège de France: a gênese do Estado moderno. Retoma, assim, uma tradição no ensino da Ciência Política que, nos seus primórdios, tinha como objeto de estudo o Estado, produto das lutas contra o feudalismo, a determinação religiosa e a legitimidade dinástica. Trata-se de uma proposta político-pedagógica na contramão do pensamento dominante na comunidade acadêmica, encantada com o debate sobre o fim do Estado-nação e o arcaísmo dos partidos políticos, além de ansiosa por se livrar das amarras teóricas da perspectiva estrutural-histórica. 
Amparado no método genético e em sistemáticos questionamentos, Bourdieu busca demonstrar que o Estado nem é monolítico nem direcionado para o bem comum, embora sua legitimidade decorra da expectativa de que garantiria direitos iguais aos cidadãos. Na última aula (12/12/1991), o autor destaca alguns de seus principais achados. Primeiramente, a construção do Estado-nação na Europa é indissociável do surgimento da ideia de cidadania e da constituição do Parlamento, espaço de manifestação dos conflitos entre grupos e classes, limitada pelas regras do jogo político e pelos interesses dos que as elaboram. Tais processos ocorrem simultaneamente e ajudam a entender a relevância para os regimes democráticos da “parlamentarização da vida política”. Sua análise é complementada por breve referência ao papel da televisão, enquanto formadora de opinião e fomentadora de debates regulados. Outra conclusão diz respeito à abordagem dialética do Estado-nação como campo de lutas políticas: por um lado, os vínculos entre o universal e o nacional, exemplificado pelo projeto civilizatório de dominação colonial da República francesa; por outro, as interdependências entre disciplina e assistencialismo, imprescindíveis à pretendida integração dos dominados e constituição da unidade nacional. Enfim, acredita Bourdieu que investigar a construção/desconstrução do Estado contribui para mudar nosso jeito de pensar as instituições e o papel dos agentes estatais na contemporaneidade. 

Resumo - 20º Palestra

A palestra será ministrada pela professora Maria Teresa Nobre.


Capítulo 22 (Curso de 05 de dezembro de 1991)



Neste curso Bourdieu apresenta um programa para a construção de uma história social das ideias políticas e do Estado e problematiza as relações entre Estado e nação, em particular. Retoma ideias defendidas nos cursos anteriores, das quais destacam-se a importância do capital cultural, como condição de acesso ao poder e como instrumento para a reprodução do poder e o exercício do poder simbólico, como fundamento das ações de agentes sociais e instituições. A discussão sobre o interesse pelo desinteresse e a construção de representações tomadas como universais a partir do campo jurídico na intercessão com outros campos instiga a reflexão acerca da produção da ideia de um sujeito universal de direitos. A relação entre a construção do estado e a construção da nação é tomada no contraponto do modelo francês e do modelo alemão e dos seus efeitos sobre a construção da cidadania. Detém-se no problema do cidadão, enquanto pertencente ou não, a um estado-nação e ao modo como essa relação se produz, tomando o caso dos imigrantes como emblemático. Após a apresentação das ideias defendidas por ele propomos uma reflexão em torno da ideia de sujeito universal de direitos como fundamento de um programa de direitos humanos, que tem se consolidado no Brasil, ao lado da implantação de inúmeras políticas públicas. Nesse jogo de disputas e interesses destacam-se dois movimentos: o exercício da violência simbólica pelos agentes do estado, como prática no interior das instituições criadas para garantir direitos aos cidadãos, por um lado; e, por outro, perspectivas de mudança social protagonizadas por diversos agentes sociais, articuladas como estratégias. Esses antagonismos e enfrentamentos que encontram no Estado um campo de lutas privilegiado, não são, como adverte Bourdieu, necessariamente planejados ou controlados, resultado de escolhas e decisões conscientes ou racionais, mas movidas, também, por investimentos não cognitivos e capazes de gerar ganhos simbólicos e afetivos. São, enfim, “lutas de inconscientes”, em cujos meandros, entre razões e paixões, nos enredamos. 


Resumo - 19° Palestra

A palestra será ministrada pela professora Maria Francisca Coelho.

Capítulo 21 (Curso de 28 de novembro de 1991)

O ESTADO COMO CAMPO DE LUTAS POLÍTICAS: A CONSTITUIÇÃO DO
 CAMPO JURÍDICO


Maria Francisca Pinheiro Coelho
Departamento de Sociologia
Universidade de Brasília



A partir da obra póstuma de Pierre Boudieu Sobre o Estado, a exposição pretende abordar a temática do Estado como campo de lutas políticas com foco na constituição do campo jurídico. O suposto é de que as lutas de todos os campos, econômico, religioso, científico, entre outros, vão repercutir, de algum modo, no Estado como lutas políticas. Os itens que serão abordados são os seguintes: primeiramente far-se-á algumas observações sobre o contexto político em que os cursos de Bourdieu sobre o Estado, no Collège de France, foram ministrados, os anos de 1989 a 1992, que constituem o conteúdo de sua obra Sobre o Estado. Em seguida se abordará o tema do  Estado como campo de lutas políticas com enfoque particular na constituição do campo jurídico no contexto de formação do Estado moderno. Por fim, far-se-á algumas considerações sobre as relevantes contribuições de Pierre Bourdieu à sociologia histórica de formação do Estado e algumas observações sobre às suas restrições ao conceito de espaço público. Essas restrições são compreensíveis em relação a uma sociologia da dominação, mas questionáveis em um olhar para a política que se desloca da prioridade do Estado para um olhar da sociedade para o Estado ou para um lugar no meio entre sociedade e Estado.

terça-feira, 16 de junho de 2015

8° Sessão - Palestrantes

Na oitava sessão do III Seminário INTERFACES, as professoras Maria Francisca Coelho, Maria Teresa Nobre e Mônica Martins abordarão o tema "O Estado como Campo de Lutas Políticas". A sessão de encerramento acontecerá no dia 25 de Junho (quinta-feira), às 13h30min, seguida de coquetel a partir das 16h30min, no auditório da Livraria Cultura, localizado na Av. Dom Luís, 1010, no Shopping Varanda Mall, Fortaleza - CE.







segunda-feira, 8 de junho de 2015

Resumo da 7ª sessão Direito e Burocracia

MESA: DIREITO E BUROCRACIA (Capítulos 18, 19 e 20 de Sobre o Estado).
DATA: 11/06/2015
Resumo da Palestra de Sylvio Gadelha:
A palestra foi concebida com fins declaradamente didáticos, servindo a uma tripla finalidade, a saber: em primeiro lugar, proporcionar ao público algumas breves e sumárias definições introdutórias tanto da noção de “burocracia” quanto da noção de “direito”, buscando articular uma à outra, e apontar, sem pretensões exaustivas, em que sentido a relação entre direito e burocracia, em face do Estado, ou na medida em que se encontra implicada ao funcionamento do Estado, faz problema às ciências sociais, sobretudo, à sociologia e à ciência e à filosofia políticas. Em segundo lugar, partilhar com o público, de forma concisa, considerações sobre alguns tópicos acerca da burocracia e do direito, tratados por Bourdieu ao longo dos capítulos 18, 19 e 20 de seu livro Sobre o Estado – tais são os casos, por exemplo, dos seguintes tópicos: a) o tópico relativo aos fatores associados à gênese de um metacampo do poder (diferenciação e dissociação das autoridades dinástica e burocrática); b) o tópico referente à dinâmica que envolve a ação, os conflitos de interesse e as relações entre os agentes burocráticos (caso dos “funcionários puros” e dos “funcionários impuros”), em meio a processos de corrupção institucionalizada no Estado chinês; c) o tópico que alude às lutas jurídicas, concebendo-as como lutas simbólicas pelo poder. Em terceiro lugar, por fim, a palestra visa a tentar estabelecer um diálogo possível entre formulações de Pierre Bourdieu e Michel Foucault, acerca do funcionamento do Estado no âmbito do neoliberalismo, para o que lança mão de uma aproximação estratégica ao campo educacional.

MESA: DIREITO E BUROCRACIA (Capítulos 18, 19 e 20 de Sobre o Estado).
DATA: 11/06/2015
Resumo da Palestra de Linda Gondim:
A CONSTITUIÇÃO DO ESTADO COMO METACAMPO DO PODER
BOURDIEU, Pierre. Lição de 21 de novembro de 1991. In: Sobre o Estado: Curso no Collège de France (1989-1992). p. 440-463. 
O texto inicia-se com a resposta a uma pergunta sobre a oposição público/privado, que Bourdieu considera complexa. Segundo ele, não existe uma dicotomia público/privado, pois este se define em relação àquele, como fica claro no caso das profissões “liberais”: elas dependem de regulamentos e certificados emitidos pelo Estado. O autor considera que a análise do Estado nessa perspectiva leva necessariamente a uma discussão da vida política atual, pois o conceito de espaço público (que ele considera “detestável”) remete a ideologias sobre Estado, política, democracia. Adverte que há imites a respeitar quando se questiona o uso político da cátedra e convida os ouvintes a refletirem sobre as implicações políticas das análises que apresenta. O primeiro ponto é que a “transmutação” do privado em público foi um processo que se desenrolou ao longo de um período histórico que vai do século XII ao século XVIII, quando ocorreu a “alquimia” que transmutou o privado em público. É um período de transição, um processo não linear, no qual convivem estruturas ambíguas: “sobrevivências feudais” ou “primícias das formas modernas” (p. 443). A ambiguidade torna o período interessante para a compreensão de suas lógicas, as quais, com o passar do tempo, tendem a se banalizar e, assim, se tornam mais obscuras, difíceis de identificar. Alerta contra o equívoco – muito comum entre os historiadores – de se buscar as origens primeiras dos fenômenos, pois o essencial é considerar as transições longas, com seus avanços e recuos. Dá como exemplo dessas transições: a separação entre os bens privados do rei e os da Coroa; a ideia de traição (a quem se trai, o Rei ou a nação?); a ambiguidade dos detentores de cargos em relação ao princípio da transmissão pelo direito ou pela 
hereditariedade. Considera que o Estado, como um “metacampo do poder”, se constitui a partir da diferenciação que ocorre no exercício do poder dinástico, em direção à criação de posições burocráticas que constituem elos de uma cadeia, levando à constituição de campos diferenciados: campos jurídico, administrativo, intelectual etc., cada um com suas lutas específicas. O “metacampo do poder” é o lugar onde se exerce a autoridade do Rei e que, depois do fim da monarquia, passa 
a ser o Estado – “um espaço diferenciado no interior do qual detentores de poderes diferentes lutam para que seu poder seja o poder legítimo” (p. 448). A seção seguinte, baseada no livro de S. Hanley Le lit de justice des rois de France, trata de dois princípios que operam na constituição do Estado: o princípio dinástico e o princípio jurídico. Bourdieu destaca como ponto positivo do livro de Sarah Hanley a análise dos aspectos rituais das sessões do Parlamento (destinação de lugares, protocolo, cor das roupas etc.), e não somente das teorias. Os juristas travam uma luta por palavras. Como ocorre em todos os campos, compartilham um capital simbólico comum, nomeadamente o uso do latim, os argumentos provenientes do direito canônico e/ou do direito romano. Já os nobres de espada provavelmente ignoram esses debates – o que é um exemplo de uma característica definidora do 
campo: seus membros combatem por coisas que parecem imperceptíveis para quem está fora, ainda que próximo. Bourdieu assinala as contradições nas posições dos juristas: cabe-lhes defender o primado do direito, daquilo que deve ser; não podem simplesmente apoiar a fórmula dinástica. contudo, é de seu interesse transmitir hereditariamente o próprio cargo. Em relação a seu papel junto ao rei, o próprio fato de darem razões para legitimar o poder monárquico é já uma limitação desse poder, porque afirma que o mesmo tem que ser justificado. Os juristas são detentores de uma competência que os coloca numa situação paradoxal nas lutas com a monarquia. Estas são lutas técnicas, mas com dimensão simbólica, pois “não se pode legitimar o rei ou limitar a sua competência sem afirmar a diferença relativamente ao rei – diferença que tem de ser reconhecida pelo rei” (p. 462).

7ª sessão DIREITO E A BUROCRACIA




terça-feira, 19 de maio de 2015

Resumo - 14° Palestra

A palestra será ministrada pelo professor Edson Farias:

Nas Texturas da Mundialização,
Traduzir Saber/Fazer Local em “Capital Humano”
Edson Farias
Contando com os resultados obtidos na pesquisa realizada junto à sistemática estatal federal brasileira, mas de acordo com os desígnios do modelo de análise figurativo-processual, neste artigo, nosso objetivo principal é apreender como se delineiam a posição ocupada pela correlação entre cultura e desenvolvimento nas agendas delineadas, nas últimas duas décadas, nas ações executadas pelos os órgãos direcionados aos saberes e fazeres classificados sob a denominação de tradicionais. Posição esta interpretada, por um lado, considerando a cultura como uma recursividade com a qual contracenam instâncias e agenciamentos em jogos de poder na cena global. Isto, no momento em que é consagrada como ser e fazer decisivos ao recrutamento de significados na realização de sentidos. De outro, quando tomamos as agendas de cultura e desenvolvimento como mecanismos pelos quais se traduzem práticas significantes referidas a saberes e fazeres tradicionais como alavancas sustentáveis de desenvolvimento local, promovendo a metamorfose dessas práticas e, por consequência, seus agentes, em capitais humanos catalisados no mercado mundial da etnicidade.

segunda-feira, 18 de maio de 2015

6° Sessão - Palestrantes

A sexta sessão do III Seminário INTERFACES acontecerá na quinta-feira,  dia 21 de Maio, às 14h. O novo local da sessão será o Auditório Luis Gonzaga, no Centro de Humanidades 3 da UFC, localizado na Av. da Universidade, ao lado da Reitoria da UFC. O tema será "Estratégias Estatais de Reprodução", e contaremos com a presença dos professores Geovani Jacó, Edson Farias e Linda Gondim:



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Resumo - 13° Palestra

A palestra foi ministrada pelo Prof. Julien Zeppetella.

Digressões sobre o curso do 7 de março de 1991 de Pierre Bourdieu.
Essa apresentação propõe expor as ideias principais do curso de Pierre Bourdieu do dia 7 de março de 1991, aliando-as a publicações posteriores do mesmo. Além disso, ela propõe também confrontá-las com várias pesquisas e trabalhos de campo do expositor sobre os bairros populares de Fortaleza e com diversos autores contemporâneos como Jessé Souza (classe média brasileira) e Michael Burawoy (Gramsci e Bourdieu).


As temáticas que serão abordadas são o Estado em Bourdieu e Gramsci, a relevância das teorias bourdieusianas no Brasil e a concentração do capital cultural.

segunda-feira, 4 de maio de 2015

Seminário College de France Janeiro 2012 - Trecho 3

Aqui está o vídeo passado na abertura da 3° sessão do Seminário. Confiram:




quinta-feira, 30 de abril de 2015

Resumo - 12° Palestra

A palestra será ministrada pela professora francesa Anne-Sophie Gosselin, e será apresentada em francês, com tradução simultânea.


Capítulo 12 (Curso de 21 de fevereiro de 1991)

Bourdieu começa apresentando seu curso como uma tentativa um pouco louca de pensar um objeto impensável : o Estado. Também, gostaria de apresentar minha intervenção como uma tentativa um pouco louca de propor uma leitura do pensamento político de Bourdieu confrontando-a à observação empírica, aqui no Ceará e hoje em 2015, ou seja, num contexto histórico, geopolítico e cultural bem diferente daquele que permeia os cursos de Bourdieu no início dos anos 1990 na França. De um lado, esse curso sobre o Estado, sobre a emergência e a constituição do campo do poder, e do outro lado, minhas pesquisas em andamento sobre a dança contemporânea no Ceará. Meu objetivo é demostrar para vocês que, apesar das aparências, é possível estabelecer uma articulação entre o quadro de análise proposto por Bourdieu e meu objeto de estudo basedo sobre a observação da sociedade brasileira atual, articulação que permite a cada um de responder ao outro, iluminá-lo e às vezes questioná-lo. Buscarei valorizar algumas das ideias centrais do curso do 21 de Fevereiro de 1991 adotando uma abordagem de interpretação de dados empíricos a partir dos conceitos chaves do curso, isto é, o capital simbólico e a noção de Nobreza de Estado, o que me levará a refletir sobre a questão da dominação. 

quarta-feira, 29 de abril de 2015

5° Sessão - Palestrantes

Na quinta sessão do III Seminário INTERFACES contaremos com a presença dos professores franceses Anne-Sophie Gosselin, Julien Zeppetella e Daniel Thin. A sessão acontecerá no Auditório do Centro Cultural Banco do Nordeste (CCBNB), no dia 07 de Maio, às 14h. As palestras serão apresentadas em francês, com tradução simultânea. 

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sexta-feira, 24 de abril de 2015

Seminário College de France Janeiro 2012 - Trecho 2

Aqui está o vídeo passado na abertura da 2° sessão do Seminário. Confiram:





sexta-feira, 17 de abril de 2015

Errata

O currículo apresentado aqui no blog do Prof. Alberto Dias Gadanha não era do mesmo. Segue as respectivas informações sobre o professor.


Alberto Dias Gadanha

Doutor em Filosofia pelo Programa Integrado de Pós-Graduação em Filosofia - UFPB, UFPE, UFRN. Atua como professor da Universidade Estadual do Ceará - UECE, nos cursos de Licenciatura e Bacharelado em Filosofia. Leciona as disciplinas de Metodologia e Prática de Ensino em Filosofia I e II no Curso de Licenciatura em Filosofia, História da Filosofia V, Filosofia Social e Política e Filosofia do Direito no Curso de Bacharelado em Filosofia da UECE.

quarta-feira, 15 de abril de 2015

Resumo - 10° Palestra

A palestra será ministrada pelo Prof. Alberto Dias Gadanha.

Capítulo 11 (Curso de 14 de fevereiro de 1991)


Neste curso, Pierre Bourdieu desenvolve cinco tópicos a partir de uma compreensão unificada, o mote de como a onipresença do Estado é aceita como crível. Mote desenvolvido a partir da exposição de expressões fenomenológicas, expressões descritivas de seu conteúdo. No primeiro título a sociologia pode apresentar-se como algo restrito a especialistas e também como algo a ser compreendido por não-iniciados, isto é, como sociologia esotérica/exotérica, e no segundo título, a relação é expressa pelo binômio profissional / profano.  O terceiro e quarto títulos referem-se à relação da exposição da estruturação da ordem social pelo Estado com a transposição da doxa à ortodoxia e o enfrentamento da heterodoxia. Como expressão que aparece só no final do seu discurso, quinto título, a onipresença estatal é referida como a "transmutação do privado em público" - como "o aparecimento do Estado moderno europeu". Reproduzindo o que a sua sociologia já considerou como reprodução, isto é, a ordem social reprodutora de tudo o que muitos denominam Estado e aqui é denominado de doxa, de relação público-privado.  Suas considerações parecem ser mais reminiscências durkheimnianas do que sintetizações weberianas, denominadas a certa altura de sociologia crítica. Não demonstrando aquiescências heterônimas com a doxa sociológica, parecem neste capítulo as confirmações de que o Estado aí está e aí estão igualmente os que se adaptam dominados pela pressões materiais ou espirituais do fato social Estado.

Resumo - 9° Palestra

A palestra será ministrada pela Profa. Kadma Marques.

Capítulo 10 (Curso de 07 de fevereiro de 1991)

Quase dez anos marcam o intervalo de tempo que liga os cursos ministrados por Pierre Bourdieu no Collège de France de 1989/1992, publicados no Brasil em 2012 sob o título Sobre o Estado, e aqueles lecionados entre 1998 e 2000, também lançados postumamente, sob o título Sur Manet: une révolution symbolique. Ao longo deste período, que mudanças sofreram as formulações teóricas de Bourdieu acerca das relações de dominação e da violência simbólica? Em Sobre o Estado, esta forma particular de exercício do poder é abordada como um metacampo ou um campo dos campos. Responsável pela disseminação de princípios de visão e de divisão social, os agentes do Estado agem por meio da instituição de crenças que se corporificam individualmente e coletivamente como categorias mentais (cognitivas e perceptivas). Como então seria possível pensar o Estado sem o recurso a categorias de pensamento geradas pelo próprio Estado? Bourdieu municia a ação do sociólogo que busca dar resposta a esta questão: é na articulação inédita entre tendências objetivistas e subjetivistas, apenas em aparência excludentes, que se conforma um materialismo simbólico capaz de desvelar os modos mais sutis pelos quais o Estado produz “um mundo social ordenado sem necessariamente dar ordens”. E para além do trabalho do sociólogo, por quais vias é possível aos agentes sociais romper o exercício exemplar desta violência simbólica naturalizada por um Estado todo-poderoso? É neste sentido que os conceitos de violência simbólica e revolução simbólica parecem apontar homologias estruturais que atravessam os mais diversos campos de ação social, articulando-se como polos opostos que estruturam a resposta a esta questão. Constituindo o eixo fundamental das reflexões do “último Bourdieu”, o conceito de revolução simbólica presente em Sur Manet assinala uma ruptura radical com a doxa que embasa o exercício de toda violência simbólica. Este tipo particular de ruptura subsidia a compreensão sociológica acerca da dinâmica de mudança social e, neste caso, designa particularmente o teor herético das práticas impressionistas que minaram o exercício da violência simbólica estatal sobre o campo da arte moderna. Deste modo, a adoção desta perspectiva relacional e retrospectiva configurada pela dupla leitura de Sobre o Estado e Sur Manet, constitui-se em estratégia de apropriação que preserva e prolonga o caráter de “teoria em ato” formulada por Bourdieu, dos cursos sobre política estatal àqueles dedicados ao campo artístico. 

terça-feira, 14 de abril de 2015

Resumo - 8° Palestra

A palestra será ministrada pela Profa. Mariana Barreto.

Capítulo 09 (Curso de 31 de janeiro de 1991)

Nesta lição apresentada no dia 31/01/1991, Bourdieu faz críticas aos discursos rigorosos nas ciências sociais, àqueles que criam barreiras ao avanço do conhecimento porque estabelecem conceitos rígidos, pouco flexíveis, ou para pensar nos seus termos, conceitos que se reproduzem, que se apresentam previamente, antes da análise efetiva da realidade. Para a crítica a este procedimento contraproducente nas ciências sociais, ele tomará o exame de dois casos emblemáticos de modernização, Inglaterra e Japão, comumente interpretados como repletos de antinomias, quanto à conservação de tradições culturais, inventadas muitas vezes, nos espaços de uma modernidade racionalizada. A análise do autor, evidentemente, se desdobrará em torno do papel do Estado, na construção das formas de coerção que permitem a unificação destas nações modernas. Para isso, conceitos importantes de sua teoria serão retomados, com especial destaque para os de doxa, dominação e violência simbólicas.

4° Sessão - Palestrantes

No dia 16 de Abril, teremos a 4° sessão do III Seminário INTERFACES, que acontecerá às 14h, no auditório Paulo Petrola , na Reitoria do Campus do Itaperi, UECE, em Fortaleza. Contaremos com a presença dos professores Mariana Barreto, Kadma Marques e Alberto gadanha, com o tema "Produção de Crenças e de Agentes do Estado".


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sexta-feira, 10 de abril de 2015

Seminário College de France Janeiro 2012 - Trecho 1

Aqui está o vídeo passado na abertura da 1° sessão do Seminário. Confiram:



terça-feira, 7 de abril de 2015

Seminário INTERFACES no Jornal O Povo

O Jornal O Povo do dia 01 de Abril publicou sobre o Seminário INTERFACES no caderno Vida & Arte. Na imagem, temos o professor José Vicente Tavares.



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Um Pouco das Palestras - 3° Sessão

Na terceira sessão do seminário, cujo tema foi Gênese e Institucionalização do Estado, contamos com a presença dos professores Roberta Manuela Barros, José Vicente Tavares e Luiz Fábio Silva Paiva.

Roberta Manuela Barros

Na sua intervenção, Manuela Barros enfatizou a importância da reflexão metodológica de Bourdieu no seu projeto de reconstrução da sociogênese do Estado moderno. Lembrando a modéstia como característica importante no trabalho do sociólogo, ela citou Bourdieu: “O grande sociólogo não é aquele que trata dos grandes problemas, mas aquele que converte os pequenos problemas em uma grande reflexão.” É neste sentido que Bourdieu convida a pensar o Estado “pequeno” que se infiltra em nós. Influenciado por Durkheim, Weber, Mannheim e Bachelard, Bourdieu propõe uma concepção da Sociologia como uma ciência do “desvelamento do real”. Diante disto, tratar sociologicamente o Estado, segundo Bourdieu, consiste em “descortinar” a amnésia da gênese da instituição, ou seja, desvelar o arbitrário dos começos. Ao adotar a vigilância epistemológica preconizada por Bachelard, Bourdieu considera a desconfiança sistemática face às adesões (deformações ideológicas) e aderências (mediadoras de prenoções) como uma estratégia imprescindível ao estudo sociológico do Estado.

José Vicente Tavares

Prolongando a apropriação teórica da professora Manuela Barros, José Vicente Tavares iniciou sua palestra ressaltando a tácita aceitação dos “dominados” no exercício da violência simbólica. De fato, esta problemática atravessa toda a obra de Bourdieu, mediante um permanente esforço de superação das oposições entre as dimensões micro e macro da análise sociológica. Tal esforço indica um diálogo implícito com Michel Foucault, apesar de, em seus cursos sobre o Estado, Bourdieu ter ignorado as reflexões deste filósofo acerca da governamentalidade. Por isso, o professor José Vicente alertou que para entender a gênese do Estado, não basta ler Bourdieu. Porém, cabe destacar a contribuição importante do sociólogo que critica Elias e Weber por não terem esclarecido quem são os agentes do Estado que possuem o poder do monopólio. A fim de esclarecer esta questão, Bourdieu define quatro perguntas fundamentais: Quem tem interesse no Estado? Há interesse em universalizar? Quem é o portador desse interesse? Quem detém o monopólio dos monopólios? A imagem do Estado como campo dos campos remete-nos à teoria bourdieusiana dos campos de ação social que, como observou o palesrante, busca reconhecer a pluralidade do mundo social. Mesmo que Bourdieu não cite Alain Tourraine1, a interpretação do conceito de campo em termos de lutas foi certamente inspirada em suas análises. Por fim, o professor José Vicente evocou um terceiro Bourdieu que, na última fase de sua carreira, aproximou-se de certo “utopismo racional”, cuja base se encontra no uso ético de uma sociologia reflexiva, dá mostras de comprometimento com a transformação social.

Luiz Fábio Silva Paiva

Por sua vez, o professor Luiz Fábio Silva chamou a atenção do público para o fato que trabalhar com a sociologia de Bourdieu significa também, em certo momento, ser capaz de deixar Bourdieu de lado. Dito isto, o professor apresentou “Sobre o Estado” como um texto no qual Bourdieu mobiliza seus conceitos teóricos mais para interpretar o Estado, do que para fazer uma reflexão sobre o Estado. A questão central à qual Bourdieu tenta responder é: como é possível que se obedeça ao Estado? A explicação desta aceitação aparentemente dócil encontra-se no conceito de violência simbólica, ligado ao senso prático. Na linha dos escritos de Durkheim, Bourdieu contesta a visão a qual sugere que a coerção seja uma imposição autoritária. Pelo contrário, trata-se de um processo de interiorização da dominação que faz com que não sintamos esta imposição. Portanto, Bourdieu acusa os sociólogos que perdem tempo querendo encontrar as origens da sujeição para chegar à prova final, ao invés de pensar o como se configurou este fenômeno. Bourdieu retoma também a ideia de Marx de uma dominação que não se faz somente pela força, mas que precisa universalizar um ideal de classe convertendo-o em ideal universal. Assumindo uma posição crítica face ao Estado, Bourdieu insiste sobre a necessidade de repensar as dominações a partir do estudo das posições dos indivíduos na sociedade.


1 Alain Touraine, Sociologie de l'action, Paris, Éditions du Seuil, 1965 et Critique de la modernité, Paris, Fayard, 1992. [Obras disponíveis online em francês http://classiques.uqac.ca/contemporains/touraine_alain/touraine_alain.html ]

quarta-feira, 1 de abril de 2015

Atenção!

Temos recebido dúvidas acerca do período de inscrição. 

As inscrições foram encerradas no dia 18 de março, ao fim da segunda sessão, pois a certificação é entregue conforme o número limite de faltas, no caso, são 2 faltas. Todavia, o pagamento pode ser depositado até hoje, dia 01 de abril, para que a inscrição seja efetivada.

Lembramos que a sessão que acontecerá hoje, 01 de Abril, será às 14h no Auditório Luiz Gonzaga, no Centro de Humanidades da UFC (CH3), ao lado da Reitoria.

terça-feira, 31 de março de 2015

Resumo - 7° Palestra

A palestra será ministrada pelo professor Luiz Fábio Silva Paiva.


Capítulo 08 (Curso de 24 de janeiro de 1991)


A presente explanação ancora-se na ideia de que Sobre o Estado é um compêndio de aulas em que Pierre Bourdieu trabalha, fundamentalmente, a forma como sua perspectiva teórico-metodológica contribui para pensar as condições históricas e sociais do Estado. Ao tentar responder se a escolha pelo Estado seria a mais adaptada aos homens, o autor inicia uma poderosa reflexão sobre como seu estruturalismo genético propõe uma análise para além das formas conceituais da lógica formal e dos sistemas de pensamento que visam encontrar tanto a causa quanto o fim da história. Ao pensar os atos de Estado como atos públicos de consagração do que é legítimo, Bourdieu nos convida a refletir sobre as lutas políticas e os processos de violência simbólica que servem aos sistemas de dominação e disciplinação moral da sociedade. Nessa abordagem, a dialética das lutas de classe de Marx, as formas de coerção da coletividade sobre o indivíduo de Durkheim e o monopólio da violência legítima de Weber são temáticas revividas para elaborar uma crítica aguda a sistemas de pensamento menos propensos a pensar criticamente relações de poder e dominação.

Resumo - 6° palestra

A palestra será ministrada por Roberta Manuela Barros.

Capítulo 6 (Curso de 10 de janeiro de 1991)

O objetivo do curso de Bourdieu é claro: a sociogênese do Estado. Em outras palavras, trata-se de desvendar a construção das lógicas que deram origem ao nascimento do Estado no Ocidente e as devidas reflexões sobre a sua estrutura e seu funcionamento. A partir deste princípio, de que tratará o curso de 10 de janeiro de 1991? No meu entender, trata-se de uma reflexão eminentemente metodológica de como alcançar este intento. Em primeira instância, o autor coloca na berlinda o seu objeto em si, problematizando-o. Muito já se escreveu sobre o Estado. A abrangência do tema é, pois, incomensurável e sua sociogenêse ou genética, em princípio, irrealizável. Mas, como a pretensão do homem em dar conta do aparentemente impossível é uma constante em nossa história, Bourdieu parte, humildemente, em direção a esta aventura sociológica. Mas, em que este autor se baseará para dar conta, minimamente, desta empreitada? No método, diria eu. É, pois, um discurso sobre o método a principal reflexão de Bourdieu no curso de 10 de janeiro de 1991. Trata-se, pois, de um convite do eminente sociólogo para adentrar no mundo dos possíveis da formação e institucionalização do Estado a partir de uma reflexão que põe em destaque uma aporia básica: só podemos pensar o Estado a partir de categorias de pensamento que o próprio Estado erigiu. Então, o grande desafio da análise aqui proposta é: como analisar o mundo social se só podemos pensá-lo a partir de um pensamento que é produto deste próprio mundo? Eis, pois, o grande desafio da análise que Bourdieu nos lança, cuja aceitação não é uma escolha apenas, mas, uma tomada de decisão imprescindível para a formação tanto dos sociólogos do passado quanto daqueles que ainda habitarão este campo científico nos anos que virão.

3° Sessão - Palestrantes

Na terceira sessão do III Seminário INTERFACES, contaremos com a presença dos professores Roberta Manuela Barros, José Vicente Tavares e Luiz Fábio Silva Paiva, com o tema "Gênese e Institucionalização do Estado". A sessão acontecerá no dia 01 de Abril (quarta-feira), às 14h no Auditório Luiz Gonzaga, localizado no bloco do curso de Ciências Sociais, no Centro de Humanidades da UFC. O endereço é Avenida da Universidade, 2683 - Benfica, Fortaleza - CE.



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Um Pouco das Palestras - 2° sessão

Na segunda sessão do seminário, contamos com a presença de Andrea Leão e Pádua Santiago. Nas palestras e no debate, a questão das relações entre história e sociologia foi recorrente tanto como a reflexão sobre o uso que Bourdieu faz da história nas suas aulas sobre o Estado.
Andrea Leão
Andrea salientou que Bourdieu cita mais de 400 autores, o que claramente representa uma vasta documentação para esses 3 anos de curso e deixou claro que a transcrição dos cursos na forma de um livro provoca ao mesmo tempo inteligibilidade e estranheza.
Lembrou que as reflexões de Bourdieu só fazem sentido se forem consideradas no âmbito da teoria da dominação que trata dos processos de interiorização da objetividade. "O Estado, na visão bourdieusiana, não atua numa relação de exterioridade", pelo contrário. Andrea insistiu sobre a dimensão subjetiva da interiorização das categorias do Estado. "Os fundamentos da noção de legitimidade e da autoridade dos governos inscrevem-se nas mentes dos indivíduos por meio de sutis e complexas operações simbólicas de oficialização, teatralização dos signos de poder". Afirmou, na continuidade do foi dito na primeira sessão do nosso seminário, que o Estado é um agente de construção da realidade social.
Retomando o que Bourdieu chama de “fenomenologia do Estado”, Andrea propôs desconstruir a ideia comum de "ausência do Estado" e repensá-la como uma representação que oculta a onipresença do Estado moderno, "uma presença que se afirma na ausência, nos detalhes cotidianos e banais".
Em seguida, inserindo Bourdieu nas tradições estrutural-funcionalista e marxista, Andrea citou duas características do pensamento do autor sobre o Estado ou melhor, duas “propriedades”: a primeira é morfológica, no sentido durkheimiano da formação dos campos numa morfologia espacial, e a segunda é histórica já que os campos se constituem historicamente através de lutas específicas, o que faz deles uma realidade histórica.
Neste lógica, Andréa alertou-nos sobre a importância de não desconectar os objetos sociológicos da realidade histórica. Seguindo Elias, o sociólogo deve ser atento para não produzir um conhecimento “impressionista”, ou seja, descontextualizado, sem temporalidade. Andrea afirmou que, de modo geral, todos os sociólogos enfrentam uma tensão permanente: de um lado a regularidade das leis, e, do outro lado, a historicidade dos seus objetos de estudo.  "É estudando a gênese dos fenômenos sociais que o sociólogo pode explicar a transformação do particular em universal." No caso do Estado, o estudo de sua gênese permite entender o monopólio do universal, outra forma de definir a violência simbólica. Por fim, Andrea explicou que o projeto intelectual de Bourdieu se encontra ao longo do livro na construção de uma teoria materialista do simbólico.
Logo após, Andrea voltou à atualidade, em particular às políticas de cultura ao nível transnacional evocando a homenagem aos escritores brasileiros que aconteceu em Paris dos dias 20 a 23 de março 2015.

Pádua Santiago
Apesar de denunciar o olhar arrogante de Bourdieu sobre as outras disciplinas e a sua representação da supremacia da ciência sociológica, Pádua apresentou-o como um dos autores mais influentes na virada dos anos 80 na disciplina histórica, tendo grande importância junto com Norbert Elias na construção da nova história cultural no Brasil como em outros países. "Temas hoje importantes para a  história, como comportamentos ligados à cultura material, e em particular ritos de higiene, foram trazidos para nós historiadores por Elias."
Pádua declarou que, de modo geral, Sobre o Estado é uma crítica aos historiadores. “Bourdieu exige da história uma abertura para outras disciplínas”, esquecendo o “verdadeiro ofício” do historiador, como nos lembrou Philippe Genêt na sua palestra no Collège de France. Reforçando essa crítica, Pádua chamou atenção ao fato de que “Bourdieu não leva em conta que o historiador é o pesquisador do arquivo empoeirado,” o historiador é aquele que “faz uma reconstrução, tenta retraçar o significado do tempo." Explicitou também que a história não é tão parada, tão estagnada quanto Bourdieu mostrou. "Dos anos 90 para cá, temos uma riqueza! A história avançou!" Neste sentido, "O texto de Bourdieu é datado”.
Pádua salientou também que o fato de ser palestra, de trabalhar na oralidade, cria uma liberdade, ao contrário da escrita que supõe uma responsabilidade maior. "No curso, Bourdieu disse coisas que não escreveria (publicaria), e por isso temos que ter todo cuidado ao fazermos uma crítica” desse texto como se ele tivesse sido escrito como um  livro. Durante o debate, essa observação foi reforçada e apresentada como elemento fundamental na apreensão desta obra de Pierre Bourdieu.
Voltando à análise teórica elaborada pelo sociólogo, Pádua apontou a conexão entre o Estado e o comércio presente na concepção do Estado moderno. O conceito de capital, na teoria bourdieusiana, deve ser entendido como um elemento central da metáfora economista que Bourdieu constrói para estudar a cultura em termos de bens materiais. Este pensamento incomoda um pouco o historiador, pois na concepção de Bourdieu a história se afasta dos vivos, numa representação desencarnada que, de certo modo, perde de vista o homem real, o chão.
Por fim, "esse estudo sobre o Estado sempre tem um viés negativo. Neste sentido, Bourdieu não se diferencia de Foucault." Em contrapartida, Pádua convidou a retornarmos à questão da positividade, pensar a dimensão positiva do Estado moderno, ou seja, considerar o Estado não somente como uma instância que limita, controla e domina, mas que também cria e abre novas possibilidades.

terça-feira, 17 de março de 2015

Resumo - 4° Palestra

A palestra será ministrada por Andréa Leão.

Capítulo 04 (Curso de 08 de fevereiro de 1990)

Poder Simbólico do Estado

Deve-se considerar, em primeiro lugar, que, assim como nos objetos da arte, da literatura e da cultura, o estudo sobre o Estado se inscreve na teoria da dominação e da reprodução simbólica formulada no conjunto da obra de Pierre Bourdieu. A arquitetura teórica bourdieusiana, fundada nos conceitos de capital, campo e habitus, confere grande importância aos processos de interiorização da objetividade, o quer dizer, aos entrelaçamentos entre as lógicas das estruturas mentais e das estruturas sociais. Bourdieu tem em vista que as relações entre os indivíduos e a sociedade são de “mútua posse”. Para a apresentação do curso ministrado no dia 08 de fevereiro de 1990, gostaria de observar que os sistemas simbólicos são formados por princípios de visão e de divisão do mundo interiorizados nos diversos momentos da socialização dos indivíduos e, sobretudo, prestam-se à dominação. 

Em todo o livro, Bourdieu interroga os efeitos e as condições de eficácia do poder simbólico exercido pelo Estado. Desde a remota escola primária do século XIX ― que, na França, já é pública ―, os fundamentos da noção de legitimidade e de autoridade dos governos vem se inscrevendo nas mentes dos indivíduos por meio de sutis e complexas operações simbólicas de oficialização e teatralização dos signos do poder. Nos livros didáticos de história, geografia, mas também nos de literatura, por exemplo, a noção do Estado enquanto aparelho burocrático se transforma magicamente em uma organização conceitual do mundo revestida de afeto e que visa a orientar os passos de comunidades partilhadas de destinos. Mais do que governos, os atos de enunciação nos discursos e práticas dos agentes estatais, analisados nos primeiros capítulos do livro, tornam-se o simulacros da nação. A lição do dia 08 de fevereiro focaliza a gênese da concentração dos recursos simbólicos do Estado, que não se reduz a mera acumulação de capital econômico. O problema da gênese do Estado diz respeito ao referente histórico das experiências concretas dos monopólios simbólicos da nomeação, classificação e hierarquização do mundo social. A partir da interlocução com os historiadores, Pierre Bourdieu nos leva a pensar sobre a fundamentação, intensidade e desdobramentos das apropriações e das posições dos que falam em nome do Estado.