quarta-feira, 15 de abril de 2015

Resumo - 9° Palestra

A palestra será ministrada pela Profa. Kadma Marques.

Capítulo 10 (Curso de 07 de fevereiro de 1991)

Quase dez anos marcam o intervalo de tempo que liga os cursos ministrados por Pierre Bourdieu no Collège de France de 1989/1992, publicados no Brasil em 2012 sob o título Sobre o Estado, e aqueles lecionados entre 1998 e 2000, também lançados postumamente, sob o título Sur Manet: une révolution symbolique. Ao longo deste período, que mudanças sofreram as formulações teóricas de Bourdieu acerca das relações de dominação e da violência simbólica? Em Sobre o Estado, esta forma particular de exercício do poder é abordada como um metacampo ou um campo dos campos. Responsável pela disseminação de princípios de visão e de divisão social, os agentes do Estado agem por meio da instituição de crenças que se corporificam individualmente e coletivamente como categorias mentais (cognitivas e perceptivas). Como então seria possível pensar o Estado sem o recurso a categorias de pensamento geradas pelo próprio Estado? Bourdieu municia a ação do sociólogo que busca dar resposta a esta questão: é na articulação inédita entre tendências objetivistas e subjetivistas, apenas em aparência excludentes, que se conforma um materialismo simbólico capaz de desvelar os modos mais sutis pelos quais o Estado produz “um mundo social ordenado sem necessariamente dar ordens”. E para além do trabalho do sociólogo, por quais vias é possível aos agentes sociais romper o exercício exemplar desta violência simbólica naturalizada por um Estado todo-poderoso? É neste sentido que os conceitos de violência simbólica e revolução simbólica parecem apontar homologias estruturais que atravessam os mais diversos campos de ação social, articulando-se como polos opostos que estruturam a resposta a esta questão. Constituindo o eixo fundamental das reflexões do “último Bourdieu”, o conceito de revolução simbólica presente em Sur Manet assinala uma ruptura radical com a doxa que embasa o exercício de toda violência simbólica. Este tipo particular de ruptura subsidia a compreensão sociológica acerca da dinâmica de mudança social e, neste caso, designa particularmente o teor herético das práticas impressionistas que minaram o exercício da violência simbólica estatal sobre o campo da arte moderna. Deste modo, a adoção desta perspectiva relacional e retrospectiva configurada pela dupla leitura de Sobre o Estado e Sur Manet, constitui-se em estratégia de apropriação que preserva e prolonga o caráter de “teoria em ato” formulada por Bourdieu, dos cursos sobre política estatal àqueles dedicados ao campo artístico. 

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