terça-feira, 31 de março de 2015

Resumo - 7° Palestra

A palestra será ministrada pelo professor Luiz Fábio Silva Paiva.


Capítulo 08 (Curso de 24 de janeiro de 1991)


A presente explanação ancora-se na ideia de que Sobre o Estado é um compêndio de aulas em que Pierre Bourdieu trabalha, fundamentalmente, a forma como sua perspectiva teórico-metodológica contribui para pensar as condições históricas e sociais do Estado. Ao tentar responder se a escolha pelo Estado seria a mais adaptada aos homens, o autor inicia uma poderosa reflexão sobre como seu estruturalismo genético propõe uma análise para além das formas conceituais da lógica formal e dos sistemas de pensamento que visam encontrar tanto a causa quanto o fim da história. Ao pensar os atos de Estado como atos públicos de consagração do que é legítimo, Bourdieu nos convida a refletir sobre as lutas políticas e os processos de violência simbólica que servem aos sistemas de dominação e disciplinação moral da sociedade. Nessa abordagem, a dialética das lutas de classe de Marx, as formas de coerção da coletividade sobre o indivíduo de Durkheim e o monopólio da violência legítima de Weber são temáticas revividas para elaborar uma crítica aguda a sistemas de pensamento menos propensos a pensar criticamente relações de poder e dominação.

Resumo - 6° palestra

A palestra será ministrada por Roberta Manuela Barros.

Capítulo 6 (Curso de 10 de janeiro de 1991)

O objetivo do curso de Bourdieu é claro: a sociogênese do Estado. Em outras palavras, trata-se de desvendar a construção das lógicas que deram origem ao nascimento do Estado no Ocidente e as devidas reflexões sobre a sua estrutura e seu funcionamento. A partir deste princípio, de que tratará o curso de 10 de janeiro de 1991? No meu entender, trata-se de uma reflexão eminentemente metodológica de como alcançar este intento. Em primeira instância, o autor coloca na berlinda o seu objeto em si, problematizando-o. Muito já se escreveu sobre o Estado. A abrangência do tema é, pois, incomensurável e sua sociogenêse ou genética, em princípio, irrealizável. Mas, como a pretensão do homem em dar conta do aparentemente impossível é uma constante em nossa história, Bourdieu parte, humildemente, em direção a esta aventura sociológica. Mas, em que este autor se baseará para dar conta, minimamente, desta empreitada? No método, diria eu. É, pois, um discurso sobre o método a principal reflexão de Bourdieu no curso de 10 de janeiro de 1991. Trata-se, pois, de um convite do eminente sociólogo para adentrar no mundo dos possíveis da formação e institucionalização do Estado a partir de uma reflexão que põe em destaque uma aporia básica: só podemos pensar o Estado a partir de categorias de pensamento que o próprio Estado erigiu. Então, o grande desafio da análise aqui proposta é: como analisar o mundo social se só podemos pensá-lo a partir de um pensamento que é produto deste próprio mundo? Eis, pois, o grande desafio da análise que Bourdieu nos lança, cuja aceitação não é uma escolha apenas, mas, uma tomada de decisão imprescindível para a formação tanto dos sociólogos do passado quanto daqueles que ainda habitarão este campo científico nos anos que virão.

3° Sessão - Palestrantes

Na terceira sessão do III Seminário INTERFACES, contaremos com a presença dos professores Roberta Manuela Barros, José Vicente Tavares e Luiz Fábio Silva Paiva, com o tema "Gênese e Institucionalização do Estado". A sessão acontecerá no dia 01 de Abril (quarta-feira), às 14h no Auditório Luiz Gonzaga, localizado no bloco do curso de Ciências Sociais, no Centro de Humanidades da UFC. O endereço é Avenida da Universidade, 2683 - Benfica, Fortaleza - CE.



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Um Pouco das Palestras - 2° sessão

Na segunda sessão do seminário, contamos com a presença de Andrea Leão e Pádua Santiago. Nas palestras e no debate, a questão das relações entre história e sociologia foi recorrente tanto como a reflexão sobre o uso que Bourdieu faz da história nas suas aulas sobre o Estado.
Andrea Leão
Andrea salientou que Bourdieu cita mais de 400 autores, o que claramente representa uma vasta documentação para esses 3 anos de curso e deixou claro que a transcrição dos cursos na forma de um livro provoca ao mesmo tempo inteligibilidade e estranheza.
Lembrou que as reflexões de Bourdieu só fazem sentido se forem consideradas no âmbito da teoria da dominação que trata dos processos de interiorização da objetividade. "O Estado, na visão bourdieusiana, não atua numa relação de exterioridade", pelo contrário. Andrea insistiu sobre a dimensão subjetiva da interiorização das categorias do Estado. "Os fundamentos da noção de legitimidade e da autoridade dos governos inscrevem-se nas mentes dos indivíduos por meio de sutis e complexas operações simbólicas de oficialização, teatralização dos signos de poder". Afirmou, na continuidade do foi dito na primeira sessão do nosso seminário, que o Estado é um agente de construção da realidade social.
Retomando o que Bourdieu chama de “fenomenologia do Estado”, Andrea propôs desconstruir a ideia comum de "ausência do Estado" e repensá-la como uma representação que oculta a onipresença do Estado moderno, "uma presença que se afirma na ausência, nos detalhes cotidianos e banais".
Em seguida, inserindo Bourdieu nas tradições estrutural-funcionalista e marxista, Andrea citou duas características do pensamento do autor sobre o Estado ou melhor, duas “propriedades”: a primeira é morfológica, no sentido durkheimiano da formação dos campos numa morfologia espacial, e a segunda é histórica já que os campos se constituem historicamente através de lutas específicas, o que faz deles uma realidade histórica.
Neste lógica, Andréa alertou-nos sobre a importância de não desconectar os objetos sociológicos da realidade histórica. Seguindo Elias, o sociólogo deve ser atento para não produzir um conhecimento “impressionista”, ou seja, descontextualizado, sem temporalidade. Andrea afirmou que, de modo geral, todos os sociólogos enfrentam uma tensão permanente: de um lado a regularidade das leis, e, do outro lado, a historicidade dos seus objetos de estudo.  "É estudando a gênese dos fenômenos sociais que o sociólogo pode explicar a transformação do particular em universal." No caso do Estado, o estudo de sua gênese permite entender o monopólio do universal, outra forma de definir a violência simbólica. Por fim, Andrea explicou que o projeto intelectual de Bourdieu se encontra ao longo do livro na construção de uma teoria materialista do simbólico.
Logo após, Andrea voltou à atualidade, em particular às políticas de cultura ao nível transnacional evocando a homenagem aos escritores brasileiros que aconteceu em Paris dos dias 20 a 23 de março 2015.

Pádua Santiago
Apesar de denunciar o olhar arrogante de Bourdieu sobre as outras disciplinas e a sua representação da supremacia da ciência sociológica, Pádua apresentou-o como um dos autores mais influentes na virada dos anos 80 na disciplina histórica, tendo grande importância junto com Norbert Elias na construção da nova história cultural no Brasil como em outros países. "Temas hoje importantes para a  história, como comportamentos ligados à cultura material, e em particular ritos de higiene, foram trazidos para nós historiadores por Elias."
Pádua declarou que, de modo geral, Sobre o Estado é uma crítica aos historiadores. “Bourdieu exige da história uma abertura para outras disciplínas”, esquecendo o “verdadeiro ofício” do historiador, como nos lembrou Philippe Genêt na sua palestra no Collège de France. Reforçando essa crítica, Pádua chamou atenção ao fato de que “Bourdieu não leva em conta que o historiador é o pesquisador do arquivo empoeirado,” o historiador é aquele que “faz uma reconstrução, tenta retraçar o significado do tempo." Explicitou também que a história não é tão parada, tão estagnada quanto Bourdieu mostrou. "Dos anos 90 para cá, temos uma riqueza! A história avançou!" Neste sentido, "O texto de Bourdieu é datado”.
Pádua salientou também que o fato de ser palestra, de trabalhar na oralidade, cria uma liberdade, ao contrário da escrita que supõe uma responsabilidade maior. "No curso, Bourdieu disse coisas que não escreveria (publicaria), e por isso temos que ter todo cuidado ao fazermos uma crítica” desse texto como se ele tivesse sido escrito como um  livro. Durante o debate, essa observação foi reforçada e apresentada como elemento fundamental na apreensão desta obra de Pierre Bourdieu.
Voltando à análise teórica elaborada pelo sociólogo, Pádua apontou a conexão entre o Estado e o comércio presente na concepção do Estado moderno. O conceito de capital, na teoria bourdieusiana, deve ser entendido como um elemento central da metáfora economista que Bourdieu constrói para estudar a cultura em termos de bens materiais. Este pensamento incomoda um pouco o historiador, pois na concepção de Bourdieu a história se afasta dos vivos, numa representação desencarnada que, de certo modo, perde de vista o homem real, o chão.
Por fim, "esse estudo sobre o Estado sempre tem um viés negativo. Neste sentido, Bourdieu não se diferencia de Foucault." Em contrapartida, Pádua convidou a retornarmos à questão da positividade, pensar a dimensão positiva do Estado moderno, ou seja, considerar o Estado não somente como uma instância que limita, controla e domina, mas que também cria e abre novas possibilidades.

terça-feira, 17 de março de 2015

Resumo - 4° Palestra

A palestra será ministrada por Andréa Leão.

Capítulo 04 (Curso de 08 de fevereiro de 1990)

Poder Simbólico do Estado

Deve-se considerar, em primeiro lugar, que, assim como nos objetos da arte, da literatura e da cultura, o estudo sobre o Estado se inscreve na teoria da dominação e da reprodução simbólica formulada no conjunto da obra de Pierre Bourdieu. A arquitetura teórica bourdieusiana, fundada nos conceitos de capital, campo e habitus, confere grande importância aos processos de interiorização da objetividade, o quer dizer, aos entrelaçamentos entre as lógicas das estruturas mentais e das estruturas sociais. Bourdieu tem em vista que as relações entre os indivíduos e a sociedade são de “mútua posse”. Para a apresentação do curso ministrado no dia 08 de fevereiro de 1990, gostaria de observar que os sistemas simbólicos são formados por princípios de visão e de divisão do mundo interiorizados nos diversos momentos da socialização dos indivíduos e, sobretudo, prestam-se à dominação. 

Em todo o livro, Bourdieu interroga os efeitos e as condições de eficácia do poder simbólico exercido pelo Estado. Desde a remota escola primária do século XIX ― que, na França, já é pública ―, os fundamentos da noção de legitimidade e de autoridade dos governos vem se inscrevendo nas mentes dos indivíduos por meio de sutis e complexas operações simbólicas de oficialização e teatralização dos signos do poder. Nos livros didáticos de história, geografia, mas também nos de literatura, por exemplo, a noção do Estado enquanto aparelho burocrático se transforma magicamente em uma organização conceitual do mundo revestida de afeto e que visa a orientar os passos de comunidades partilhadas de destinos. Mais do que governos, os atos de enunciação nos discursos e práticas dos agentes estatais, analisados nos primeiros capítulos do livro, tornam-se o simulacros da nação. A lição do dia 08 de fevereiro focaliza a gênese da concentração dos recursos simbólicos do Estado, que não se reduz a mera acumulação de capital econômico. O problema da gênese do Estado diz respeito ao referente histórico das experiências concretas dos monopólios simbólicos da nomeação, classificação e hierarquização do mundo social. A partir da interlocução com os historiadores, Pierre Bourdieu nos leva a pensar sobre a fundamentação, intensidade e desdobramentos das apropriações e das posições dos que falam em nome do Estado. 

Resumo - 5° Palestra

A palestra será ministrada por Pádua Santiago.

Capítulo 05 (Curso de 15 de fevereiro de 1990)

A VIRADA CULTURAL HISTORIOGRÁFICA E A CONTRIBUIÇÃO DE BOURDIEU

Nossa participação tem como objetivo mostrar em que e como as críticas às práticas dos historiadores, esboçadas por Bourdieu, no “Curso de 15 de fevereiro de 1990”, em grande medida, foram absorvidas, subsequentemente, pela “História Cultural”. Em primeiro lugar, situaremos os pontos tratados pelo “Curso”: “O oficial e o privado”, “Sociologia e história: o estruturalismo genético”, “História genética do Estado”, “Jogo e campo”, “Anacronismo e ilusão do nominal” e “As duas faces do Estado”. Nosso objetivo é, portanto, saber qual era o fundamento da crítica que Bourdieu fazia aos historiadores do período em que desenvolvia seus cursos e se os historiadores absorveram tal crítica do ponto de vista prático. Em seguida, partindo do ponto de vista de que esse “Curso” está datado, pois já se foram um quarto de século desde que Bourdieu apresentou sua crítica à história, no Collège de France, mostraremos que, desde então observou-se uma grande reviravolta na historiografia mundial, na brasileira e mesmo no Ceará. Ele próprio, Bourdieu, juntamente com Mikhail Bakhtin, Nobert Elias, Michel Foucault, contribuíram imensamente com o que denominamos hoje de História cultural. Segundo o historiador inglês Peter Burke, em seu livro “O que é História cultural?”, publicado no Brasil em 2005, quinze anos depois do término do “Curso” proferido no Collège de França, esse filósofo que se transformou em antropólogo e sociólogo muito nos ensinou, a nós historiadores, com seus estudos sobre o século XIX, notadamente sobre os berberes e sobre os franceses, pois os conceitos que emergiram desses estudos foram fundamentais para os historiadores culturais. Entre os conceitos recorrentes à obra de Bourdieu, levado a efeito de uso pelos os historiadores da Cultura, foi sua “‘teoria da prática’, especialmente o conceito de ‘habitus’” que suscita grande interesse. Isso porque seu estudo examinou a prática “em termos de improvisação sustentada numa estrutura de esquemas inculcados pela cultura tanto na mente como no corpo”.[1] Ainda sobre esse ponto, tentaremos traçar as aproximações entre Bourdieu e alguns historiadores como Hobsbawn e Roger Chartier e suas preocupações com as permanências e rupturas na história que nos faz pensar que, talvez, seria anacrônica ou mesmo datada, porque não corresponde mais à realidade das pesquisas da historiografia atual, a afirmação de que “paradoxalmente, os historiadores são, de todos os eruditos, os mais propensos ao anacronismo, em grande parte porque são vítimas da ilusão da constância do nominal, ilusão segundo a qual uma instituição que guardou hoje o mesmo nome da Idade Média é a mesma”.[2] Mesmo hoje, as análises dos historiadores sobre o Estado tem tendido a focalizar as práticas burocráticas como estratégia, cuja a gênese “é a gênese de um lugar de gestão do universal, e ao mesmo tempo de um monopólio do universal, e de um conjunto de agentes que participam do monopólio de fato dessa coisa que por definição, é o universal”[3]. Portanto, Bourdieu que detectou a distância entre sociólogos e historiadores, inspirou, com suas pesquisas, não só a aproximação, mas a mudança historiográfica que se verifica através da pesquisa atual.


[1] BURKE, Peter. O que é história cultural?. 2ª ed., Rio de Janeiro: Zahar, 2008.
[2] BOURDIEU, Pierre. Sobre o Estado (Cursos no Collège de France (1989-1992). São Paulo: Companhia das Letras, 2014.
[3] Idem, p. 149.


quinta-feira, 12 de março de 2015

2° Sessão - Palestrantes

Na segunda sessão do III Seminário INTERFACES, contaremos com a presença de Max Maranhão, Andréa Leão e Pádua Santiago, com o tema "Poder Simbólico do Estado". A sessão acontecerá no dia 18 de março (quarta-feira), às 14h no Auditório do Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura, em frente ao Espaço Mix, localizado na Rua Dragão do Mar, 81 - Praia de Iracema, Fortaleza. 
Você pode conferir a 2° sessão do III Seminário INTERFACES na programação do Dragão do Mar clicando AQUI.

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Um Pouco das Palestras - 1º Sessão

Na sessão de abertura, contamos com a presença de Francisco Teixeira e Irlys Barreira. Depois de apresentarem seus temas, foi aberto um espaço para perguntas. Segue um pouco do que foi dito durante a sessão.

Francisco Teixeira explicou que “o Estado é uma realidade misteriosa que existe por meio de seus efeitos.”

Reformulando as ideias de Bourdieu, Teixeira também afirmou que “a questão é como legitimar o poder como tal, já que a dominação precisa ser legitimada, e isso baseia-se na crença que se encontra no âmbito da tradição.” Irlys Barreira, por sua vez, avisou que “fazer uma desconstrução das crenças do Estado não é fácil.”

Segundo Teixeira, “o problema de Bourdieu é escapar da dominação do Estado para falar sobre o Estado.” Ele questiona: “Até que ponto a sociologia de Bourdieu consegue nos libertar dessa dominação?”

Irlys Barreira insistiu sobre o fato de que “em vez de pensar o que é o Estado, Bourdieu pesquisa como ele se manifesta. [...] O Estado é muito poroso mas é também um conjunto de fenômenos concretos.”

terça-feira, 3 de março de 2015

Resumo - 1° Palestra

A palestra será ministrada por Francisco Teixeira. 

Capítulo 01 (curso de 18 de janeiro de 1990)


O texto de abertura do livro Sobre o Estado (curso de 18 de janeiro de 1990), subsidia uma leitura  das teorias  que tratam  do  Estado  a  partir  dos  autores  com  os  quais  Pierre  Bourdieu dialoga para a configuração de sua própria formulação, quais sejam: os teóricos do contrato social, Marx e Weber. O autor explicita uma concepção do Estado como um Deus Intangível. Para ele o Estado é uma espécie de “deus obsconditus”, isto é, um deus desconhecido, oculto. O Estado seria então uma instituição que tende a enganar a percepção ou o entendimento, ou ainda, uma instituição que não pode ser destruída ou alterada; uma entidade indestrutível ou inatacável, uma vez que os agentes sociais obedecem às regras impostas pelo Estado sem que disso tenham consciência. Constitui‐se, portanto, como um princípio da ordem pública, o qual se manifesta das formas físicas evidentes às formas simbólicas inconscientes.  Esta “realidade misteriosa”,  representada  pelo  Estado,  existe  e  se  perpetua  pela  crença  coletiva  em  sua existência.  Por  meio,  então,  de  uma  exposição sumariada  das  teorias  do  Estado,  pretendo apresentar o conceito de Estado em Bourdieu, e face a este, proceder à crítica de sua teoria sociológica.





Resumo - 2° palestra

A palestra será ministrada por Irlys Barrera.

Capítulo 2 (curso de 25 de janeiro de 1990)



O texto do Curso de 25 de janeiro de 1990 pode ser lido como proposta metodológica de investigação que desconstrói as versões generalizantes sobre o tema do Estado e instituições a ele articuladas. Bourdieu  critica as  concepções teóricas e filosóficas que afirmam a natureza abstrata e uniforme do Estado, contribuindo assim para criar efeitos de teoria. Se a pretensão demoníaca do Estado é a de produzir a visão verdadeira e oficial do mundo social, a tarefa do sociólogo  não  está  isenta  dos mesmos  riscos  de  uma  generalização  legitimada  pela  teoria. Trata‐se de se pensar sobre as condições concretas que fazem com que a instituição estatal se torne  operante  em  sua  luta  simbólica  para  construir  e  impor  uma  visão  de  mundo  como universal. O Estado funciona como um artefato progressivo, feito por agentes especializados, dotados de poder fiduciário e que controlam diferentes recursos, estando submetidos a uma mesma  soberania.  São  agentes  organizados  em  comissões  que  elaboram  a  alquimia  de transformar o particular em universal, conferindo ao Estado o estatuto do sagrado. O capital de  recursos  investidos  contribui  para  dar  o sentido  de  universalidade  às  práticas  políticas, fazendo  com  que  coisas  insignificantes sejam  ritualizadas  criando  a  agenda  dos  problemas públicos. Ao invés da oposição entre Estado e sociedade civil, Bourdieu considera a perspectiva de um continuum que supõe uma distribuição do acesso aos recursos públicos, materiais ou simbólicos, mediada por instituições, as quais se associam o nome Estado. Essa distribuição é objeto de disputas permanentes, sendo as lutas políticas a forma mais típica para derrubar ou interferir sobre essa distribuição. A genealogia histórica do Estado, segundo o autor, é então uma  tarefa  dificílima,  podendo  ser  pensada  a  partir  de  um  acúmulo  de  experiências  e comparações não redutíveis a uma tendência genérica que arriscaria esvaziar a própria noção de Estado.




Divulgação do Evento

Como parte da agenda de atividades para divulgação do III Seminário INTERFACES, estiveram na manhã do dia 02 de março, na Rádio AM do POVO, as professoras Kadma Marques e Anne-Sophie Gosselin, ambas ligadas ao MAPPS/UECE, bem como Mariana Barreto (UFC). No programa Debates O Povo CBN, as pesquisadoras foram entrevistadas pelo jornalista Ruy Lima e convidaram os interessados a comparecerem à cerimônia de abertura do evento no dia 05 de março próximo, no Auditório da Livraria Cultura.


À noite, foi a vez dos professores Geovani Freitas e Mônica Martins participarem do programa Questão de Ordem, na TV Assembleia (canal 30), onde trataram de temáticas diversas ligadas à questão do exercício do poder estatal e à sociologia de Pierre Bourdieu.