terça-feira, 17 de março de 2015

Resumo - 4° Palestra

A palestra será ministrada por Andréa Leão.

Capítulo 04 (Curso de 08 de fevereiro de 1990)

Poder Simbólico do Estado

Deve-se considerar, em primeiro lugar, que, assim como nos objetos da arte, da literatura e da cultura, o estudo sobre o Estado se inscreve na teoria da dominação e da reprodução simbólica formulada no conjunto da obra de Pierre Bourdieu. A arquitetura teórica bourdieusiana, fundada nos conceitos de capital, campo e habitus, confere grande importância aos processos de interiorização da objetividade, o quer dizer, aos entrelaçamentos entre as lógicas das estruturas mentais e das estruturas sociais. Bourdieu tem em vista que as relações entre os indivíduos e a sociedade são de “mútua posse”. Para a apresentação do curso ministrado no dia 08 de fevereiro de 1990, gostaria de observar que os sistemas simbólicos são formados por princípios de visão e de divisão do mundo interiorizados nos diversos momentos da socialização dos indivíduos e, sobretudo, prestam-se à dominação. 

Em todo o livro, Bourdieu interroga os efeitos e as condições de eficácia do poder simbólico exercido pelo Estado. Desde a remota escola primária do século XIX ― que, na França, já é pública ―, os fundamentos da noção de legitimidade e de autoridade dos governos vem se inscrevendo nas mentes dos indivíduos por meio de sutis e complexas operações simbólicas de oficialização e teatralização dos signos do poder. Nos livros didáticos de história, geografia, mas também nos de literatura, por exemplo, a noção do Estado enquanto aparelho burocrático se transforma magicamente em uma organização conceitual do mundo revestida de afeto e que visa a orientar os passos de comunidades partilhadas de destinos. Mais do que governos, os atos de enunciação nos discursos e práticas dos agentes estatais, analisados nos primeiros capítulos do livro, tornam-se o simulacros da nação. A lição do dia 08 de fevereiro focaliza a gênese da concentração dos recursos simbólicos do Estado, que não se reduz a mera acumulação de capital econômico. O problema da gênese do Estado diz respeito ao referente histórico das experiências concretas dos monopólios simbólicos da nomeação, classificação e hierarquização do mundo social. A partir da interlocução com os historiadores, Pierre Bourdieu nos leva a pensar sobre a fundamentação, intensidade e desdobramentos das apropriações e das posições dos que falam em nome do Estado. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário