terça-feira, 17 de março de 2015

Resumo - 5° Palestra

A palestra será ministrada por Pádua Santiago.

Capítulo 05 (Curso de 15 de fevereiro de 1990)

A VIRADA CULTURAL HISTORIOGRÁFICA E A CONTRIBUIÇÃO DE BOURDIEU

Nossa participação tem como objetivo mostrar em que e como as críticas às práticas dos historiadores, esboçadas por Bourdieu, no “Curso de 15 de fevereiro de 1990”, em grande medida, foram absorvidas, subsequentemente, pela “História Cultural”. Em primeiro lugar, situaremos os pontos tratados pelo “Curso”: “O oficial e o privado”, “Sociologia e história: o estruturalismo genético”, “História genética do Estado”, “Jogo e campo”, “Anacronismo e ilusão do nominal” e “As duas faces do Estado”. Nosso objetivo é, portanto, saber qual era o fundamento da crítica que Bourdieu fazia aos historiadores do período em que desenvolvia seus cursos e se os historiadores absorveram tal crítica do ponto de vista prático. Em seguida, partindo do ponto de vista de que esse “Curso” está datado, pois já se foram um quarto de século desde que Bourdieu apresentou sua crítica à história, no Collège de France, mostraremos que, desde então observou-se uma grande reviravolta na historiografia mundial, na brasileira e mesmo no Ceará. Ele próprio, Bourdieu, juntamente com Mikhail Bakhtin, Nobert Elias, Michel Foucault, contribuíram imensamente com o que denominamos hoje de História cultural. Segundo o historiador inglês Peter Burke, em seu livro “O que é História cultural?”, publicado no Brasil em 2005, quinze anos depois do término do “Curso” proferido no Collège de França, esse filósofo que se transformou em antropólogo e sociólogo muito nos ensinou, a nós historiadores, com seus estudos sobre o século XIX, notadamente sobre os berberes e sobre os franceses, pois os conceitos que emergiram desses estudos foram fundamentais para os historiadores culturais. Entre os conceitos recorrentes à obra de Bourdieu, levado a efeito de uso pelos os historiadores da Cultura, foi sua “‘teoria da prática’, especialmente o conceito de ‘habitus’” que suscita grande interesse. Isso porque seu estudo examinou a prática “em termos de improvisação sustentada numa estrutura de esquemas inculcados pela cultura tanto na mente como no corpo”.[1] Ainda sobre esse ponto, tentaremos traçar as aproximações entre Bourdieu e alguns historiadores como Hobsbawn e Roger Chartier e suas preocupações com as permanências e rupturas na história que nos faz pensar que, talvez, seria anacrônica ou mesmo datada, porque não corresponde mais à realidade das pesquisas da historiografia atual, a afirmação de que “paradoxalmente, os historiadores são, de todos os eruditos, os mais propensos ao anacronismo, em grande parte porque são vítimas da ilusão da constância do nominal, ilusão segundo a qual uma instituição que guardou hoje o mesmo nome da Idade Média é a mesma”.[2] Mesmo hoje, as análises dos historiadores sobre o Estado tem tendido a focalizar as práticas burocráticas como estratégia, cuja a gênese “é a gênese de um lugar de gestão do universal, e ao mesmo tempo de um monopólio do universal, e de um conjunto de agentes que participam do monopólio de fato dessa coisa que por definição, é o universal”[3]. Portanto, Bourdieu que detectou a distância entre sociólogos e historiadores, inspirou, com suas pesquisas, não só a aproximação, mas a mudança historiográfica que se verifica através da pesquisa atual.


[1] BURKE, Peter. O que é história cultural?. 2ª ed., Rio de Janeiro: Zahar, 2008.
[2] BOURDIEU, Pierre. Sobre o Estado (Cursos no Collège de France (1989-1992). São Paulo: Companhia das Letras, 2014.
[3] Idem, p. 149.


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